Rotas dos Azulejos - Travessia Ferroviária Norte-Sul
Entrevista a António Costa Pinheiro : “À distância de algumas décadas, como lembrarias os momentos mais importantes da tua carreira? Antes dos Reis houve uma série de obras que pertencem a uma época em que fiz a transição do que eu chamo os quadros negros, ou o “ciclo do sofrimento”, para um reencontro com a figuração. Isto foi por 1963-64, e foi uma enorme surpresa redescobri-los, há pouco tempo, no meu atelier de Munique, onde estiveram esquecidos todos estes anos, enrolados. Na altura guardei-os e não pensei mais neles. Quando os revi, recentemente, fiquei de facto surpreendido. Apercebi-me de um fenómeno singular. Olhando para eles pensei: “Cá está”, porque ali percebia os indícios de uma linguagem que depois se estratificou nos Reis mas que, apesar de uma certa rigidez, tem já as característi- cas de uma aventura plástica autónoma. Esboçava as coisas e assim ficavam. Ou então apagava e deixava as marcas do apagamento. Vistas agora, parecem-me muito atuais. E a série mais atual, dos Navegadores? Continua a haver uma certa dualidade. De há três ou quatro anos para cá lembrei-me dos estudos que tinha feito a seguir aos Reis, que eram dos Navegadores. Passados estes anos todos, olhando para esses estudos, pensei que poderia ser interessante trazê-los para uma atualidade mental minha. Hesitei durante um tempo, mas, de repente, percebi que fazia parte de um espaço que me pertence e pareceu-me legítimo fazê-lo, sem temer as repetições. Mas paralelamente pergunto-me porque estarei a fazer essa outra série – os Retratos d’Ele e d’Ela – que parecem nada ter a ver com os outros? Eu penso que esta nova série lança já um caminho para outras oportunidades. De me tornar independente em relação à temática dos Navegadores, que é ainda herdeira dos Reis. São quase anti retratos. Desligo-me, neles, de uma temática escolhida.” Este artista tem obra patente na estação de Palmela-A . Sobre Jun Shirasu : Jun Shirasu é autor do painel de azulejo de grandes dimensões Três Jardins patente na estação de comboios de Palmela-A. No painel Jun Shirasu utilizou o azul-cobalto sobre esmalte branco numa técnica inspirada na sua experiência enquanto gravador. Este artista tem obra patente na estação de Palmela-A . Estas cenas pintadas referem-se à história e cultura do lugar: são sobre Bocage, poeta setubalense. Os painéis pintados com momentos da vida e da obra de Bocage encontram-se na fachada principal e nos átrios da estação, assim como na passagem inferior pedonal. Na fachada principal encontra-se também o nome da estação e o símbolo da REFER, integrados num dos painéis. A escolha deste tema relaciona-se com a história, cultura e vivência de Setúbal, onde se encontra a estação, numa alusão à literatura e à tradição do local, relacionando-se com as pessoas que ali habitam e passam todos os dias. No seu conjunto estes painéis e estereotomias têm um caráter lúdico com os jogos geométricos de cores criando espaços abstratos em perspetiva, e um sentido de integração no local com alusão às vivências do sítio, e assim apelam à atenção e participação dos passageiros e transeuntes, para os descodificar e completar o seu significado.” Obras de Arte Sobre a Obra Azulejar da sua autoria patente na estação de Setúbal , escreve Joana da Motta Guede s: “Foram desenvolvidos 6 painéis de azulejos figurativos e 8 painéis com estereotomias geométri- cas para a Estação de Setúbal, para a fachada principal, para os átrios, para a passagem inferior pedonal e para as plataformas de passageiros. Estas intervenções artísticas foram criadas com a preocupação de se integrarem no ambiente da estação, em harmonia com a arquitetura e apresentando uma forte unidade formal de imagem e de integração no local. Os painéis de azulejos e as estereotomias decorativas são compostos por azulejos de 10 x 10 cm. Utilizaram-se os amarelos, os laranjas, os verdes e os azuis, numa composição segundo uma estrutura em grelha, através da qual se criaram espaços geométricos com a sensação de profundidade. Através do esquema de cores em sucessão rítmica, onde predominam as linhas verticais em intervalos geométricos, cria-se a profundidade e o efeito espacial, através da repetição do elemento do azulejo, e com recurso às cores e à perspetiva. 24
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